quarta-feira, 30 de agosto de 2017

QUE VOO COMPLICADO!



Último dia de férias no Rio de Janeiro. Primeiro mês do ano de 1989. Depois de uma semana na cidade maravilhosa, muitos passeios e boas conversas, Lauro nos conduziu ao Aeroporto do Galeão. Fred e Cesar tinham 10 e 8 anos respectivamente. Chegamos um pouco mais cedo que o necessário para embarcar num voo da Varig para Natal. Despachamos a bagagem e com algumas revistas e livro na mão, aguardamos a chamada para o embarque.
Para surpresa nossa, na hora prevista do embarque, a recepcionista da companhia chamou os passageiros e nos avisou que o voo havia sido cancelado. Nós receberíamos um voucher para irmos de taxi a um hotel na praia do Flamengo (ida e volta) e outro para a hospedagem num hotel.
Chegamos no hotel apenas com a roupa que estávamos vestidos. Nem pijamas nem pasta de dentes tínhamos nas mãos. Como o voucher do hotel dava direito à refeição, começamos a reconhecer no jantar, pessoas que também estavam no aeroporto.
No café da manhã observamos que um grupo de pessoas estava com a mesma roupa do dia anterior, inclusive nós.
Chegamos ao Aeroporto às 9 horas da manhã, conforme solicitado pela companhia aérea. O tempo foi passando e não nos chamavam para o embarque, nem davam satisfação. Até que um grupo de passageiros começou a se organizar e forçou a barra para que embarcássemos. Quando começaram a dizer que iriam denunciar no Jornal do Brasil, nos encaminharam rapidamente ao avião.
    Embarcamos, contudo a tripulação não se preocupou em iniciar o voo, nem nos dar satisfação sobre o que estava acontecendo. Apenas fomos informados que, devido ao Regulamento, não poderiam servir alimento enquanto a aeronave permanecesse em terra. Assim, começamos a tirar nós mesmos alguns pacotes de amendoim e similares, para lancharmos.  O sistema de ar condicionado não foi ligado.
À tarde, fomos informados pela tripulação de que eles teriam que se retirar da aeronave, porque havia vencido o horário de trabalho deles. Uma cláusula do contrato do seguro de vida deles, dizia que eles estariam descobertos do prêmio, se trabalhassem mais do que o estipulado.
Em algum momento, alguns passageiros mais revoltados com a demora, jogaram alguns assentos pela porta do avião que se encontrava aberta e o clima ficou tenso. A justificativa era a necessidade de chamar atenção da imprensa para que dessem solução ao problema.  
Nova tripulação entrou no avião. Agora eles nos informaram que era necessário que deixássemos o avião para que houvesse teste das turbinas que haviam recebido manutenção para que pudéssemos iniciar a viagem. Como estávamos ainda em clima de constituinte, pois a nossa havia sido promulgada em 5 de outubro de 1988, um grupo de voluntários se auto denominou de “constituintes” para que pudessem negociar com a  Companhia Aérea. Dessa forma os “constituintes” disseram em nome de todos que não sairíamos do avião para o teste e que esse procedimento teria que ser feito com os passageiros nos seus assentos, mesmo que contrariasse alguma norma da aviação. No meio da tarde, surge uma lista dos “abaixo assinados” informando para o Jornal do Brasil o que estava acontecendo. Assinei a lista, pois naquela altura do campeonato, eu assinaria qualquer papel que passasse na minha frente, até pra criar um novo partido político.
Finalmente o teste foi realizado com todos os passageiros à bordo. Já passava das 18 horas quando disseram que o teste havia sido positivo e que iriamos nos preparar para iniciarmos o voo, depois de quase 24 horas após a prevista originalmente.
 Nesse instante surge outro empecilho ao prosseguimento da viagem. Algumas pessoas ficaram tensas com a pane na aeronave e mesmo tendo sido feita a manutenção, disseram: “nesse avião eu não viajo mais. Vou descer e quero que retire as minhas malas”.
Mais um tempo perdido. Tivemos que esperar que fossem retiradas todas as malas e descessem os passageiros que tiveram medo de prosseguir a viagem. E o pior era a despedida dos que desciam: “tenham uma boa viagem”. Para onde? pensava eu.
Meus filhos ainda pequenos ficaram desesperados e começaram a chorar. “Não quero viajar nesse avião”, diziam eles. Tivemos que convencer os meninos que viajar naquele voo era seguro. Seria mesmo?
Finalmente, no horário do voo do dia seguinte, segunda feira, o avião decolou rumo ao Recife. Mas se você está pensando que os problemas acabariam aí, está muito enganado. Após terem servido o jantar, a tripulação falou que teríamos que ir direto para Fortaleza, uma vez que o horário de trabalho iria vencer e não havia tripulação disponível para substitui-los no Recife.
Depois desse cansaço todo, a gente estava topando até fazer escala em Miami ou Orlando, para que chegássemos em casa. O avião aterrissou em Fortaleza e após o embarque dos passageiros que esperavam esse avião desde cedo e a troca da tripulação, decolamos para Natal. Chegamos a 1 hora da manhã do dia seguinte (terça feira), exaustos, revoltados com o pouco caso que fizeram de nós e com a roupa do domingo. E ainda perdi um dia das minhas férias. A nossa única preocupação era chegar em casa e tomar um banho. Ufa!!! Que voozinho complicado esse!  Gratidão a Deus, por termos chegado em paz!


Carlos Alfredo 20-08-17

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