Último dia de férias
no Rio de Janeiro. Primeiro mês do ano de 1989. Depois de uma semana na cidade
maravilhosa, muitos passeios e boas conversas, Lauro nos conduziu ao Aeroporto
do Galeão. Fred e Cesar tinham 10 e 8 anos respectivamente. Chegamos um pouco
mais cedo que o necessário para embarcar num voo da Varig para Natal.
Despachamos a bagagem e com algumas revistas e livro na mão, aguardamos a
chamada para o embarque.
Para surpresa nossa,
na hora prevista do embarque, a recepcionista da companhia chamou os
passageiros e nos avisou que o voo havia sido cancelado. Nós receberíamos um voucher
para irmos de taxi a um hotel na praia do Flamengo (ida e volta) e outro para a
hospedagem num hotel.
Chegamos no hotel
apenas com a roupa que estávamos vestidos. Nem pijamas nem pasta de dentes
tínhamos nas mãos. Como o voucher do hotel dava direito à refeição, começamos a
reconhecer no jantar, pessoas que também estavam no aeroporto.
No café da manhã
observamos que um grupo de pessoas estava com a mesma roupa do dia anterior,
inclusive nós.
Chegamos ao Aeroporto
às 9 horas da manhã, conforme solicitado pela companhia aérea. O tempo foi
passando e não nos chamavam para o embarque, nem davam satisfação. Até que um
grupo de passageiros começou a se organizar e forçou a barra para que
embarcássemos. Quando começaram a dizer que iriam denunciar no Jornal do
Brasil, nos encaminharam rapidamente ao avião.
Embarcamos,
contudo a tripulação não se preocupou em iniciar o voo, nem nos dar satisfação
sobre o que estava acontecendo. Apenas fomos informados que, devido ao
Regulamento, não poderiam servir alimento enquanto a aeronave permanecesse em
terra. Assim, começamos a tirar nós mesmos alguns pacotes de amendoim e
similares, para lancharmos. O sistema de
ar condicionado não foi ligado.
À tarde, fomos
informados pela tripulação de que eles teriam que se retirar da aeronave,
porque havia vencido o horário de trabalho deles. Uma cláusula do contrato do
seguro de vida deles, dizia que eles estariam descobertos do prêmio, se
trabalhassem mais do que o estipulado.
Em algum momento,
alguns passageiros mais revoltados com a demora, jogaram alguns assentos pela
porta do avião que se encontrava aberta e o clima ficou tenso. A justificativa
era a necessidade de chamar atenção da imprensa para que dessem solução ao
problema.
Nova tripulação
entrou no avião. Agora eles nos informaram que era necessário que deixássemos o
avião para que houvesse teste das turbinas que haviam recebido manutenção para
que pudéssemos iniciar a viagem. Como estávamos ainda em clima de constituinte,
pois a nossa havia sido promulgada em 5 de outubro de 1988, um grupo de
voluntários se auto denominou de “constituintes” para que pudessem negociar com
a Companhia Aérea. Dessa forma os “constituintes”
disseram em nome de todos que não sairíamos do avião para o teste e que esse
procedimento teria que ser feito com os passageiros nos seus assentos, mesmo
que contrariasse alguma norma da aviação. No meio da tarde, surge uma lista dos
“abaixo assinados” informando para o Jornal do Brasil o que estava acontecendo.
Assinei a lista, pois naquela altura do campeonato, eu assinaria qualquer papel
que passasse na minha frente, até pra criar um novo partido político.
Finalmente o teste
foi realizado com todos os passageiros à bordo. Já passava das 18 horas quando
disseram que o teste havia sido positivo e que iriamos nos preparar para
iniciarmos o voo, depois de quase 24 horas após a prevista originalmente.
Nesse instante surge outro empecilho ao prosseguimento
da viagem. Algumas pessoas ficaram tensas com a pane na aeronave e mesmo tendo
sido feita a manutenção, disseram: “nesse avião eu não viajo mais. Vou descer e
quero que retire as minhas malas”.
Mais um tempo
perdido. Tivemos que esperar que fossem retiradas todas as malas e descessem os
passageiros que tiveram medo de prosseguir a viagem. E o pior era a despedida
dos que desciam: “tenham uma boa viagem”. Para onde? pensava eu.
Meus filhos ainda
pequenos ficaram desesperados e começaram a chorar. “Não quero viajar nesse
avião”, diziam eles. Tivemos que convencer os meninos que viajar naquele voo era
seguro. Seria mesmo?
Finalmente, no
horário do voo do dia seguinte, segunda feira, o avião decolou rumo ao Recife.
Mas se você está pensando que os problemas acabariam aí, está muito enganado.
Após terem servido o jantar, a tripulação falou que teríamos que ir direto para
Fortaleza, uma vez que o horário de trabalho iria vencer e não havia tripulação
disponível para substitui-los no Recife.
Depois desse cansaço
todo, a gente estava topando até fazer escala em Miami ou Orlando, para que
chegássemos em casa. O avião aterrissou em Fortaleza e após o embarque dos
passageiros que esperavam esse avião desde cedo e a troca da tripulação,
decolamos para Natal. Chegamos a 1 hora da manhã do dia seguinte (terça feira),
exaustos, revoltados com o pouco caso que fizeram de nós e com a roupa do
domingo. E ainda perdi um dia das minhas férias. A nossa única preocupação era
chegar em casa e tomar um banho. Ufa!!! Que voozinho complicado esse! Gratidão a Deus, por termos chegado em paz!
Carlos Alfredo 20-08-17